[SEMINOVO]

Quando uma discussão reúne cientistas sociais, psicanalistas, psiquiatras e filósofos em torno de um tema que os interessa a todos, é de esperar muita tensão e muito conflito. Como um olhar outro sobre um assunto meu poderia deixar de me inquietar, já que, por definição, põe em xeque a acuidade de meu olhar e faz tremer minha certeza da pertinência de meu discurso?

Esse foi bem o caso dos encontros, em boa hora promovidos pela UNESP de Araraquara, sobre o tema candente das articulações entre Doença mental e sociedade.

O leitor há de notar, ao longo deste livro, vários fios de tensão e muitos conflitos interpretativos mais ou menos velados.

De um lado, o temor dos sociólogos de que uma biologização da doença mental venha a apagar os quadros sociais da vida mental, tanto normal como patológica.

De outro, o temor dos psiquiatras de que o esquecimento da realidade irredutível da doença mental (ou sua dissolução na trama do social) torne os sociólogos cegos para a originalidade e, sobretudo, para a incontornável necessidade da prática clínica - Bento Prado Júnior